domingo, 18 de março de 2007

a vírula não foi feita para humilhar ninguém.

Como a minha audiência anda baixa, o jeito é mudar de estilo. Mas como fazê-lo? O jeito é seguir o velho mandamento universitário que diz: na falta de idéia melhor, faça citação.

Há uma velha anedota acadêmica que reza o seguinte: copiar de um livro, é plágio; de três, é TCC; de seis, dissertação; de mais de dez, tese. A ética universitária utiliza-se de um argumento bastante loquaz, sagaz, mordaz (entre outras palavras terminadas em Z) para justificar as suas atividades de monge copista: citação é indispensável.Antes mesmo de salpicar um texto com vírgulas e crases ou inverter os períodos, aprende-se como se faz uma belíssma referência.

Não fugindo a regra, o texto* que se segue é de José Cândido de Carvalho, encontrado no livro Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon:

Era Borjalino Ferraz e perdeu o primeiro emprego na Prefeitura de Macajuba por coisas de pontuação. Certa vez, o deiretor do Serviço de Obras chamou o amanuense para uma conversa de fim de expediente. E aconselhativo:

- Seu Borjalino, tenha cuidado com as vírgulas. Desse jeito, o amigo acaba com o estoque e a comarca não tem dinheiro para comprar vírgulas novas.

Fez outros ofícios, semeou vpirgulas empenadas por todos os lados e acabou despedido. Como era sujeito de brio, tomou aulas de gramática, de modo a colocar as vírgulas em seus devidos lugares. Estudou e progrediu. Mais do que isso, saiu das páginas da gramática escrevendo bonito, com rendilhados no estilo. Cravava vírglas e crases como um ourives crava pedras. O que fazia o coletor federal Zozó Laranjeira apurar os óculos e dizer com orgulho:

- Não tem como o Borjalino para uma vírgula e mesmo para uma crase. Nem o presidete da República!

E assim, um porco-espinho de vírgulas e crases. Borjalino foi trabalhar, como escriturário, na Divisão de Rendas de São Miguel do Cupim. Ficou logo encarregado dos ofícios, não só por ter práticade escrever como pela fama de virgulista. Mas, com dois meses de caneta, era despedido. O encarregado das rendas, sujeito sem vírgulas e sem crase, foi franco:

- Seu Borjalino, sua competência é demais para repartição tão miúda. O amigo é um homem de instrução. É um dicionário. Quando o contribuinte recebe um ofício de sua lavra, cuida que é ordem de prisão. O Coronel Balduíno dos Santos quase teve m sopro no coração ao ler uma peça saída de sua caneta. Pensou que fosse ofensa, pelo que passou um telegrama desaforado ao Senhor Governados do Estado. Veja bem! O Senhor Governador.

E por colocar bem as vírgulas e citar Nabucodonosor em ofício de pequena corretagem, o eslêndido Borjalino foi colocado à disposição do olho da rua. Com uma citação no Diário Oficial e duas gramáticas debaixo do braço.


* Seguindo a ABNT: CARVALHO, José Cândido de. Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971.

5 comentários:

Jonas Tenfen disse...

Nossa, eu li o texto do Jonas e recomendo! hahahaah

Anônimo disse...

segundo Carvalho (apud Tenfen, 2007) as vírgulas devem ser cravadas tais quais diamantes em jóias. sendo assim, meu parecer é que não sinto falta da Locatelli.

Jonas Tenfen disse...

Nota ao parecerista: minha citação do texto no formato ABNT não está correta...

Anônimo disse...

nem o titulo está correto...

Dalila Floriani disse...

eu acho que pode ser que talvez quem sabe

hãm, faltou alguma vírgula?