quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

O ACORDO

Por livros ou por casos contados, sempre soube que é muito arriscado fazer pactos, independentemente com quem seja. Além das artimanhas contratuais e das letras miúdas, a dívida é cobrada com juros altos. Reuniram-se em local e data pré-determinados, ofertou alguns símbolos, faz a proposta: “Quero entender o que ninguém entendeu, quero que a minha mente vislumbre a Verdade por detrás das aparências,” e a clausula de segurança “mesmo assim, que a sanidade não me abandone”. O contratado sorriu abaixando a cabeça, alisou a barba e o pactuante pingou seu sangue. Deram-se as mãos. Não houve uma explosão como esperava; tudo se tornara simples, absurdamente acessível, estranhamente comum. Por mais que invocasse singeleza, ninguém, em nenhum lugar, conseguia compreendê-lo. Entendeu a gargalhada sufocada e deixou-se decair: perdeu empregos e relacionamentos, amigos sumiram, contatos desapareceram, sobrou a rua como abrigo. Não importava mais se lhe trancassem com grades em celas ou com drogas em asilos, sua cadeia era inviolável: estava preso à linguagem.

3 comentários:

Jonas Tenfen disse...

puxa! isso aqui anda meio abandonado!

Fernando Floriani Petry disse...

Deveras! Eu mesmo não me apresento por aqui há tempos! O marasmo está um tanto quanto desagradável...

Anônimo disse...

é a quantidade de trabalho paralelo... Em breve, aqui, noticiaremos sobre a poeté....