Ao se falar em filosofia e de filósofos, a imagem recorrente é de indivíduos taciturnos, cabisbaixos, completamente desligados da realidade e com uma das mãos sempre no queixo, contemplativos. No que se refere às qualidades extrínsecas, esse imaginário beira a uma idéia de estereótipo; das qualidades intrínsecas, não se pode dizer que um filósofo está desligado do mundo, pois ele pensa a realidade.
A ética é uma das temáticas mais constantes na história da filosofia e, ao menos no que concerne os quinhentos anos de Brasil, pouquíssimas vezes esta temática esteve tão presente como nos dias atuais. Isso, de forma alguma quer dizer que não havia ética em outros momentos ou que ela encontrou o seu ápice agora.
As discussões sobre ética dizem respeito, dentre outras coisas, até onde uma ação é moralmente correta, moralmente errada, quais os critérios para orientarem julgamento do que é correto ou errado. Tais discussões são perenes, mas nem sempre estão organizadas sob mesmo um nome.
A resposta direta para as três perguntas indiretas acima é depende. Parece-me que, na pós-modernidade em que (sobre)vivemos, não há ciência, exata ou humana, que não carregue um “depende” delimitando critérios até para se ter critérios. Se o critério aqui adotado fosse “para Aristóteles”, encontraríamos as respostas para as questões no livro Ética a Nicomaco; se o critério fosse “para Wittgenstein”, encontraríamos as respostas no livro Tractatus Logico-philosophicus.
Mesmos para um público não-leigo, esta última obra requer um esforço maior do que outras sobre o mesmo tema. Neste ínterim, temos a publicação da terceira edição do livro Ética e Linguagem, do Prof. Dr. Darlei Dall’Agnol, que deixa claro quais são seus objetivos almejados com este livro através do subtítulo: Uma introdução ao Tractatus de Wittgenstein.
Dividido em três capítulos, o livro passa pela Crítica da Linguagem (capítulo A) onde há os limites do dizível; ao se pensar em Wittgenstein, logo surge o contato com a sua máxima, aquela que diz que os limites do meu mundo são a minha linguagem e, em um raciocínio de lógica não muito abstrato, poderíamos dizer que os limites da minha ética passam pela minha linguagem. No capítulo B (O Místico) temos que a ciência e a mística são limitadas, mas nenhuma das duas é descartada. Por fim, o capítulo C é sobre O sentido ético do Tractatus. Em anexo, segue a Conferência sobre Ética, escrita entre setembro de 1929 e dezembro de 1930.
Os capítulos, de A a C, foram concebidos como se fossem diálogos, em alguns momentos mais acalorados que outros, entre Bertrand Russel e Wittgenstein. Apesar destes dois filósofos possuírem um caminho intelectual em parceria, com problema filosóficos comuns, as falas não possuem a pretensão de (como o autor específica na Apresentação do livro) reproduzir algum diálogo real entre os dois. Mesmo assim, todas as afirmações e conceitualizações estão pautadas no que os dois escreveram e com referências de onde foram retiradas as informações. Isso faz do livro uma introdução à obra de Russel, também.
Este livro, faço questão de ressaltar novamente, é uma introdução. A leitura do Tractatus é, de uma maneira mais simples, facilitada com a leitura de Ética e Linguagem e este, por sua vez, só pode ser bem compreendido através da leitura do Tractatus. Há excelentes leitores, teóricos até, de orelhas de livros e já seria muito se estes lessem uma introdução como esta. Logo, estes já devem ter uma ética sobre o que é ler ou, quando muito, sobre até onde ler.
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Ética nossa de cada dia
Tocplocado por
Jonas Tenfen
às
01:23
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