terça-feira, 21 de março de 2006

Ventos sem balanço

O vento pacientemente espera a instalação do balanço
quintal lugar nenhum, na casa de ar
lá mora o menininho que olha a vitrine.
Dom Quixote desistiu de lutar.
Procura jornais
Leva consigo tudo o que tem.
Toma seu chá de esmolas na caneca de um parquinho
Os anúncios de caras camas não funcionam pra aquecer.
Moinhos não são mais dragões
Restaram moídos.

Não há interruptores nas luzes de postes
não há sonhos.

O pão já foi vendido
o sino bateu
a missa acabou.
O sorvete escorrega com o alfa1235798
a mão segura a alfa123766
balanços balançam tantos números.
O menininho tá sujo de jornal
criança que tem cheiro de notícia não pode brincar
nem de longe pode olhar.

A calçada é sempre cinza.
tem a cor da sua casa.

Mandaram ir pra escola
lá tinha balanço
só não tinha material.
Sem maçã o mestre fica zangado
gritos de cal assustavam
o castigo era no balanço não sentar.
Sem balanço, sem sentido
resolveu não mais voltar.

Mudou-se de rua.
Procurou novos jornais
camas de papel não aqueciam
era hora de trocar.
Achou páginas vermelhas
rostos chorosos clamando algo desconhecido
não lhe falaram que justiça poderia existir.
Lágrimas e sangue de papel
aqueciam mais que ofertas.

Os balanços balançavam o medo do castigo.
Não pode se sentar.

Muitos ventos sem balanço
muitos ventos ao jornal...

Finalmente um cobertor!
Lágrimas sentidas e sangue em suas mãos
foram o que mais o aqueceram.

Jornal com novas notícias trouxe um novo dia
estranhas imagens, absurdas palavras.
Um homicídio aconteceu
os alfa 1235798 e 123766
sentados estavam em balanços da praça da igreja
cobertos com jornal ofertando camas
vermelhos de sangue.
O vento balançava corpos sem vida.

Longe dali um homem procurava sua nova casa cinza.

Um comentário:

Rolo disse...

Parabéns, congratulações aos loucos poetas deste espaço digital; continuem sempre assim, não faz mal.

Sempre aparecem leitores, eleitores, elencos. Dizem que a arte não precisa do reconhecimento. mesmo assim, dou um pouco do meu.

Um grande abraço,
Rolo