Olá Tânia!

opa
opaDeus salve a poesia. Deus salve tudo e a todos. Deus salve Manoel Bandeira e sua libertinagem. Deus salve a poesia, porque Deus é a poesia (ou a poesia é Deus). Deus salve Ivã Fiódorovitch Karamazov, e seus dizeres de que tudo lhe é permitido. Deus salve a licença poética que lhe tudo permite.
opa E, completando a caravana edênica da expiação, Deus salve a tequila. Deus salve a tequila que me deixa perdido, como se num purgatório estivesse, entre o paraíso amalgamado da completa bebedeira, e o inferno monocromático e disforme da latejante dor de minha cabeça.
opa Deus salve o pequenino diabito mexicano que está como se pousado ao meu ombro (esquerdo) a sussurrar com sua embriagante voz: vai, faz o trabalho assim mesmo, escreve essa verborréia, põe a culpa na poesia e te safa de ter que olhar-te mais uma vez no espelho.
Deus proteja meu diabito, para que ele possa me convencer a entregar esse texto como um trabalho acadêmico.
opa E, por fim, Deus salve o diabito por ele me lembrar que é sobre espelhos, olhares e visões, e não sobre deus esse trabalho.

opa Mas como falar dessa trindade sem falar de deus. Ele que me criou, a Sua imagem e semelhança. Ele que me é meu reflexo. Ele que criou o espelho, diante do qual me prosterno agora, a conversar com meu mexicano de ombro (esquerdo): Diabos! Como deus pôde ser tão feio e disforme!
opa E deus que me criou meus olhos, estes mesmos que “não consegue(m) olhar o mundo com um olhar de ver”. E ele mesmo, criador desta logorréia desvairada amplamente apoiada e divulgada pela poesia despoética – e pelo diabito mexicano do meu ombro (esquerdo).
opa E uma vez que Caronte abandonou a nau da salvação, e tudo está a revelia, que se salve também Fernando Pessoa, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Antõnio Vieira. À nau dos perdidos, Leminski. Aquele cachorro filhodaputa.
opa Mas porque esses títulos... Pois o diabito foi dormir, a tequila acabou, e eu resolvi, finalmente, fazer esse trabalho descentemente.