(dificil é ser diferente sem ser clichê.)
um dia tive mãos pequenas e olhos grandes, pra descobrir o mundo, que na época, era muito maior. acreditei que era feio mentir, mesmo quando a verdade podia me machucar e corri pela casa com medo da minha mãe. aprendi a subir no muro sem me importar com a altura e lembrar que podia cair. um dia, fingi que um pé de jabuticaba podia ser uma nave espacial, e que eu era a vice-chefe da tripulação, sem ter que usar drogas pra isso. passei uma tarde inteira montando castelo de lego, na escada do prédio, e outra madrugada jogando atari, sem dar bola pro tempo. um dia até andei de bicicleta na chuva, sabendo que no outro dia iria acordar doente. e quem se importaria com a dor, sabendo que iam cuidar de mim?
com 10 anos, eu quis muito crescer. com 14, não queria mais. tem gente até que acha que eu parei ali. com quase 20, isso assusta, porque agora o tempo realmente importa, acordar doente pode ser despedicio de vida, ou mais uma chance pra solidão entrar sem convite. vivo com os pés no chão, porque tenho medo de altura. o mundo ficou menor, e mesmo assim minha mãe está muito longe pra cuidar de mim quando preciso dela. pra compensar, não tenho mais que fugir, porque já não moramos na mesma casa. aprendi a mentir, mesmo quando não é nescessário, porque é muito mais fácil se eu fingir. a bicicleta ficou pequena, as minhas mãos viraram grandes demais (ok, nem tanto) mas agora os meus olhos são insignificantes, até já quis ser cega, pra não ter que enxergar o quanto eu cresci, e o que deixei pra trás.
"i stopped talking when i was six years old
i didn't want anything more to do with the outside world
i was happy being quiet
but, of course, they wouldn't leave me alone"
~ child psychology - black box recorder
segunda-feira, 17 de outubro de 2005
em busca da terra do nunca...
Tocplocado por
Nayara Duarte [1]
às
18:30
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2 comentários:
E pensar que dias atrás eu vi um filme chamado The Lost Boys em que os garotos perdidos eram vampiros...
Descobrir que uma jabuticabeira pode ser uma nave mãe sem o uso de drogas...
Descobrir que doenças podem ser um desperdicio de vida...
Descobrir que descobrir...
Descobrir que a bicicleta pode ser pequena...
Não seria isso descobrir que é vida.
Ou talvez descobrir que não uso, em nenhuma circusntancia - mesmo em trabalhos academicos, de absurda seriedade - pontos de interrogação.
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